terça-feira, 9 de junho de 2015

Eu sou uma mistura de etnias. Um desabafo.

Hoje em dia não se pode mais pensar numa igualdade que não incorpore o tema do reconhecimento das diferenças, o que supõe lutar contra todas as formas de desigualdade, preconceito e discriminação.(CANDAU, 2002, p.129) O multiculturalismo  criado no Brasil é fruto do povoamento dos portugueses que se encantaram com os índios, que foram os primeiros habitantes do nosso país. Pergunto-me por que é tão difícil aos historiadores escreverem que todos somos índios, afinal de contas, descendemos de índios com índios, portugueses com índios e mais tarde negros com índios, brancos(estrangeiros) com negros, brancos com índios.  A identidade cultural brasileira é somente uma mistura de culturas que existem desde que o Brasil foi formado, para mim não se justifica ter preconceito com o que você tem no seu sangue.
O preconceito ou a indiferença ou repudio ao diferente, existe independente de ser índio, ou negro, ou branco.  Prevalece por você enquanto ser humano não gostar do que não é idêntico a si próprio. O que funciona com a forma de pensar e ver as situações e as coisas, sempre aparece um, dois ou mais que discordam de sua forma de pensar por não ser como a sua. O que vai diferenciar a resposta do discordante de ser preconceituosa ou não são suas palavras,  seus sentimentos e atitudes.
   A minha identidade cultura foi formada com uma miscigenação das três “raças”: índio, português e negro. Cresci comendo cuscuz e beiju  no café da manha pratos indígenas e aos domingos um galinha caipira que via minha mãe e vó fazendo. Meus tios e tias recitando poemas que aprendiam na faculdade. Aprendi a poupar com um, a ser solidário com o outro, que mulher tinha que obedecer aos homens, que homens podiam tudo e as mulheres tinha que respeitar. Até hoje nenhum das filhas mulheres ou neta que é meu caso não sabem andar de bicicleta. E quando foi para aprender a dirigir pra que deixa isso com os homens. Também aprendi que um homem tem que honrar sua palavra.  E para aceitar que mulheres são tão capazes quanto os homens foi difícil. Até hoje aceitar a opinião das mulheres é difícil. E minha vó ainda acha que devemos servir nossos tios e fazer vista grossa para os absurdos cometidos por homens, porque são homens.
Minha tia abriu as portas para a independência feminina na minha família, usando saia curta, sendo doutora em educação e psicologia o que nenhum dos filhos homens conseguiu, ela é meu exemplo e todos formaram minha identidade inicial e o mundo principalmente escolar e acadêmico fizeram de mim o que sou hoje.

Como educadora acredito que meu papel e de mediadora na construção de conhecimento de aceitação e de transformação do individuo no meio social em que está inserido. E assim ser capaz de transformar todos que estão a sua volta na compreensão dos sentimentos, pensamentos e ideais diferentes dos seus.

BIBLIOGRAFIA:
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade, Cotidiano Escolar e Cultura(S): Uma Aproximação.  RevEducação & Sociedade, ano XXIII, nº 79, Agosto/2002.

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